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Núcleo Cinematográfico de Dança estreia dois trabalhos: uma videodança no virtual e um espetáculo no presencial

Crédito da foto: Ariana Estela
Cena de Peças de Conversação

Com 19 anos de atividades ininterruptas com apreço pelo híbrido, o Núcleo Cinematográfico de Dança mostra dois novos trabalhos. Bebendo em diversas fontes – das festas de música eletrônica aos rituais antropofágicos, xamânicos e terreiros -, Transe em Trópico tem apresentações presenciais e gratuitas até 20 de dezembro, de sexta a segunda e quarta, às 20h, com 13 bailarinos em cena, no Teatro de Contêiner Mungunzá, na Santa Ifigênia, em São Paulo. Numa sociedade de excessos de informação, imagens e discursos, a videodança Peças de Conversação fala sobre a necessidade de uma escuta preenchida pela empatia. A estreia do duo com Maristela Estrela e Mariana Sucupira na direção e em cena é no próximo dia 30, terça, 20h. A temporada online e gratuita segue até dia 12 de dezembro, de terça a domingo, exceto sexta, às 20h, pelo Vimeo.

O Núcleo Cinematográfico de Dança iniciou há dois anos a pesquisa que originou o espetáculo Transe em Trópico. “Tudo começou com o policiamento corporal no contexto atual. Ainda que a moralidade conservadora nunca tenha deixado de estar presente, ela parecia, ao menos, um pouco mais subterrânea. E todos os problemas relacionados ao corpo ganharam nova dimensão. O corpo é proibido. De novo. Precisamos então, novamente e ainda com mais força, repensar o lugar do corpo e da alteridade”, diz a bailarina Maristela Estrela.

Na busca por encontrar “os corpos tropicais, os corpos brasileiros” que acolham as diferenças, o Núcleo Cinematográfico de Dança se inspirou no conceito oswaldiano da antropofagia, no intuito de devorar hábitos, costumes e não caber em determinados padrões. Os rituais antropofágicos, com recorte para a festa do cauim e o antropomorfismo, são alguns dos temas caros dessa investigação.

A companhia se apoiou em práticas corporais que trazem à tona a memória ancestral do animal, assim um humano-onça/onça-humano virou a corporalidade de base de toda a pesquisa. Fause Haten criou os figurinos; André Boll assina a iluminação; a cenografia é de Renan Marcondes; e a trilha de Transe em Trópico nasceu da parceria de Rayra Costa e Ricardo Vincenzo.

Partitura de saltos

Coreografado e dançado por Mariana Sucupira e Maristela Estrela, Peças de Conversação é desenvolvido desde 2018. O dueto propõe o diálogo entre duas mulheres, destacando o gesto de mãos que se entrelaçam em uma tentativa de reconexão. O Núcleo Cinematográfico de Dança escolheu trabalhar a partir de uma ideia de síntese e supressão de elementos.

Como investigar a linguagem do cinema que não cabe na fisicalidade do corpo que dança? Como na sétima arte, que dá a potência de expandir o olhar sobre as possibilidades das imagens, a companhia dá um zoom nos pequenos gestos. “Olhamos o gesto de mover de mãos dadas como uma conversa. E apesar de ser algo mínimo e cotidiano, mover a partir dele implica uma série de micronegociações: quem propõe o movimento? Quem interrompe? Quem fala, quem escuta?”, diz a codiretora Maristela Estrela.

Como um loop que vai do corpo dela para o da parceira de cena Mariana Sucupira, e vice-versa, os padrões se repetem entre os movimentos das bailarinas. Uma mão segura outra e persiste como se algo estivesse sempre mudando e ao mesmo tempo permanecendo igual.

“Esta imagem levanta uma série de questões: o que significa ficar em tal proximidade por determinado tempo? Como negociar nossas necessidades? Quão perto duas pessoas podem chegar e até que ponto elas devem ser estranhas uma à outra?” fala a cineasta, codiretora e bailarina Mariana Sucupira.

Para além desse gesto como imagem, as artistas olharam como ele se manifestava e como poderiam transformar sensações, alterando o fluxo e peso em cena. O resultado é uma partitura de saltos, uma presença mais lúdica, uma potência de ir para cima.

Trata-se de um jogo coreográfico de ação e reação, de atividade e passividade. “É difícil abordar a leveza sem pensar em equilíbrio, pois ela exige um tipo de força que não tem nada de rígido, mas mantém uma constância dinâmica em meio às oscilações, uma forma de filtrar e jogar com as variações rítmicas externas”, afirma Sucupira.

Todas as cenas de Peças de Conversação são externas, foram filmadas em espaço aberto, com luz natural. A proposta é mostrar a passagem do tempo através do ciclo noite-dia/dia-noite, com mais ou menos claridade, mais ou menos brilho.

A trilha sonora resulta da parceria do Núcleo Cinematográfico de Dança com a artista sonora Rayra Costa, que compõe música de ruído através do no-input (retroalimentação de mesas de som). Através desse método os ruídos inerentes de mixers de áudio são transformados numa espécie de sintetizador. A paisagem sonora inclui trechos de textos que se dissolvem entre os sons da natureza, como o da cigarra, do vento e dos passarinhos.

Os dois trabalhos fazem parte do projeto “os braços se elevam, os corações batem mais forte, os corpos se desdobram, as bocas se desatam” e é realizado através da 28a edição do Programa Municipal de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo.

Núcleo Cinematográfico de Dança

Formado pela parceria artística entre Mariana Sucupira e Maristela Estrela em 2002, o Núcleo Cinematográfico de Dança pesquisa e investiga relações transversais de linguagem, principalmente entre a dança e o cinema, flertando com a performance, o teatro e as artes plásticas. Possui um apreço pelas transgressões “indisciplinares”, pelas intromissões mútuas entre modos de produzir, circular, enviesar, dar a ver e hibridizar dança. Realizou diversas peças coreográficas, intervenções, performances, videodanças, além de dois intercâmbios com artistas de diversas linguagens na cidade de São Paulo. Foi contemplado com os seguintes editais/prêmio: Programa Municipal de Fomento à Dança – SP (2006, 2010, 2011, 2014, 2020), Novos Coreógrafos – Novas Criações: Site Specific, Centro Cultural São Paulo (2009), Programa de Ação Cultural (Proac – 2009, 2011, 2013, 2019), LAB – Maria Alice Vergueiro (2021) e Prêmio Funarte Klauss Vianna (2013). Em paralelo com a produção e a circulação dos trabalhos, mantém, desde 2002, o grupo de estudos em dança e performance 16 Mulheres e ½.

Mariana Sucupira

É formada em Dança e Cinema. Há mais de 20 anos produz vídeos para dança, teatro e música. Em seu portfólio destacam-se nomes como: Rumos Dança, Festival Boticário na Dança, Balé da Cidade de São Paulo, Escola do Theatro Bolshoi, HZT – Universität der Künste Berlin, Escola Municipal de Bailados, Steve Paxton e Lisa Nelson etc. Trabalhou em diversos filmes de curta e longa-metragem exibidos e premiados nacional e internacionalmente, bem como nos mais importantes festivais de cinema de São Paulo. É cofundadora e codiretora do Núcleo Cinematográfico de Dança. Atua como criadora, performer e diretora em diversos trabalhos de dança, performance e teatro.

Maristela Estrela

É artista da dança, diretora, coreógrafa e professora. Integrou como criadora-intérprete a Cia. Oito Nova Dança e a Cia. Perdida, de Juliana Moraes. É parceira da Balangandança Cia. desde 2006. Orientadora do grupo de pesquisa em dança e performance 16 Mulheres e ½. Entre 2015 e 2016, residindo em Berlim, participou de uma residência artística no Lake Studios Berlin. Colaborou como criadora e performer para a coreógrafa Minako Seki (Minako Seki reEnter Company) nos projetos The Forest as Musical Score (Der Wald als Partitur) e In Between Project Research. Foi performer na exposição Topic Tropic, de Jan Brokof & 44flavours na Schau Fenster e em }JUST{ – Hommage à Déconstruction, com o sound designer Marcus Beuter. Atualmente faz a preparação corporal no projeto A Extinção é para Sempre, de Nuno Ramos, com direção de Antônio Araújo. É cofundadora e codiretora do Núcleo Cinematográfico de Dança onde desenvolve, desde 2002, uma pesquisa entre cinema e dança e onde atua também como criadora e performer.

Ficha técnica

Transe em Trópico
Concepção e direção: Núcleo Cinematográfico de Dança
Criação e performance: Adriane de Lucca, Fabiane Carneiro, Paulo Barcellos, August Severin, Mayk Ricardo Santos, Maristela Estrela, Mariana Sucupira, Katharina Câmara, Mariana Taques, Ilana Elkis, Larissa Alexandre, Pedro Athié e Jaqueline Andrade
Produção: Thaís Rossi
Assistente de produção: Tetembua Dandara
Figurino: Fause Haten
Colaboração dramatúrgica: Maria Tendlau
Iluminação: André Boll
Cenografia: Renan Marcondes
Trilha: Rayra Costa e Ricardo Vincenzo
Preparação corporal kempo: Ciro Godoy
Assessoria de imprensa: Luciana Cassas

Peças de Conversação
Criação: Núcleo Cinematográfico de Dança
Direção e dança: Mariana Sucupira e Maristela Estrela
Produção: Thaís Rossi
Figurino: Maristela Estrela
Colaboração coreográfica: Clara Gouvêa
Colaboração dramatúrgica (peça ao vivo): Carolina Callegaro e Clarissa Sacchelli Colaboração cenográfica: Renan Marcondes
Trilha: Núcleo Cinematográfico de Dança e Rayra Costa
Câmera: João Barim
Edição: Mariana Sucupira/Images Nômades
Produção no set: Ariana Estela
Assessoria de imprensa: Luciana Cassas

Serviço

Transe em Trópico
Núcleo Cinematográfico de Dança
Dias 12, 13, 14, 22 e 24 de novembro e 15, 17, 18, 19 e 20 de dezembro de 2021
Sexta a segunda e quarta, às 20h
Local: Teatro de Contêiner Mungunzá
Rua dos Gusmões, 43 – Santa Ifigênia, São Paulo – SP
Ingresso: Grátis – retirada de ingressos somente online em www.cinedanca.com/ingresso

Peças de Conversação
Núcleo Cinematográfico de Dança
Dias 30 de novembro e 1º, 2, 4, 5, 7, 8, 9, 11 e 12 de dezembro de 2021
Terça, quarta, quinta, sábado e domingo, às 20h
Local: Virtualmente – Sessões online pelo Vimeo
Ingresso: Grátis – retirada de ingressos em www.cinedanca.com/ingresso

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