Festivais

Festival Contemporâneo de Dança 2013

Em 2013 o FCD reúne em SP artistas de vários países comprometidos com a reflexão poética e crítica que caracteriza os processos criativos em dança contemporânea. A 6ª edição do FCD reforça seu engajamento na difusão de distintos pensamentos coreográficos que desarranjam nossos hábitos cognitivos, desafiando-nos a perceber outros modos de existir.

Na contramão de outras iniciativas culturais que privilegiam o acúmulo de atrações medindo seus resultados em termos quantitativos, os convidados desta edição terão a oportunidade de permanecer na cidade por um longo período para uma real partilha de suas práticas.

Este ano o FCD começa no dia 29 de outubro e se estende por quase todo o mês de novembro viabilizando curtas temporadas com entrada franca ou a preços populares, três oficinas de criação gratuitas voltadas à qualificação artística e mais uma edição do 7×7, projeto que promove a prática da escrita criativa a partir do contato com as propostas do Festival.

Os artistas que participam do FCD 2013 expõem as fragilidades do mundo contemporâneo com o seu olhar sensível, deixando-se afetar e ser afetados pelos fatos, pessoas e coisas ao seu redor. Agenciando as intensidades e as potências de vida que nos atravessam e nos movem e experimentando corporeidades porosas que promovem acontecimentos múltiplos, eles nos desafiam a rever nossos preconceitos sobre o corpo e o fazer artístico.

Nesta edição retornam ao Festival os jovens artistas Fernando Belfiore (São Paulo/Amsterdã) e Michelle Moura (Curitiba) proporcionando ao público a possibilidade de acompanhar a continuidade de seus trabalhos.

O FCD recebe ainda os criadores europeus Ivo Dimchev (Sófia/Bruxelas), Sofia Dias e Vítor Roriz (Lisboa) e Jared Gradinger e Angela Schubot (Berlim) viabilizando a apresentação de seus trabalhos pela primeira vez no Brasil.

Nesta oportunidade o Festival também conta com a presença do coreógrafo e diretor artístico do Grupo Cena 11, Alejandro Ahmed, que oferecerá uma oficina e mostrará um solo que aponta uma nova fase na sua trajetória artística.

Criando ressonâncias para além da sala teatral, o FCD promove mais uma edição do 7×7, projeto idealizado por Sheila Ribeiro que teve origem na 1ª edição do FCD, onde artistas escrevem sobre o trabalho de outros artistas, compartilhando suas impressões sobre as apresentações.

Adriana Grechi e Amaury Cacciacarro Filho


PROGRAMAÇÃO

Um gesto que não passa de uma ameaça
Sofia Dias e Vítor Roriz (Lisboa)
Galeria Olido
31 de outubro a 3 de novembro de 2013
Quinta a sábado às 20h, domingo às 19h

 

 

 

Em Um gesto que não passa de uma ameaça assumimos a palavra como um corpo sujeito às mesmas lógicas de composição do movimento. Considerar uma palavra enquanto corpo é lidar com toda a sua potência, é ter em conta não só o seu significado como também a sua plasticidade sonora e a sua relação com a voz, a respiração, o ritmo e a musicalidade. Assim como quando repetimos uma palavra até ela perder seu significado, procuramos situar-nos nesse momento de perda e atribuição de sentido, de degeneração e transformação, indo ao encontro do modo caótico como a nossa mente percebe e associa acontecimentos. Deste modo, libertamo-nos de determinismos semânticos e sintáticos, dissimulamos a hierarquia aparente entre a palavra, a voz, o movimento e o gesto e aspiramos a novas constelações de sentido que reflitam a complexidade da experiência humana que tão ingenuamente se tenta conter em sistemas e modelos. É um percurso degenerativo entre palavras contraditórias, contextos sem correspondência, línguas diferentes ou até mesmo inexistentes, feito por ligações tênues e sutis de sons, movimentos, respirações e fonemas.

Sofia Dias e Vítor Roriz colaboram desde 2006 na pesquisa e na concepção de trabalhos de dança, apresentados em vários países europeus. São artistas vinculados à associação cultural Materiais Diversos (Lisboa) e ao O Espaço do Tempo (Montemor-o-Novo). Sofia Dias formou-se na Escola de Dança do Conservatório Nacional (Nova Iorque) em 2001 e no C.e.m. (Lisboa). Trabalhou como performer com diversos artistas europeus e, paralelamente, dedicou-se ao trabalho experimental de som, compondo os ambientes sonoros para as suas criações. Vítor Roriz formou-se em educação física na Universidade do Porto. Trabalhou como ator no Teatro Oficina (Guimarães) e com diversos diretores, aprofundou sua formação em dança no Centro de Dança do Porto e no Forum Dança (Lisboa). Foi bolsista do DanceWeb2011 e participou dos projetos COLINA/06 (Tallinn, Estônia) e APAP/07 (Torres Vedras).

Fole
Michelle Moura (Curitiba)
FUNARTE
1 a 3 de novembro de 2013
Sexta a domingo às 19h

 

 

 

Em Fole o movimento é de expulsar. A prática é de hiperventilar. E o desejo é de sair de si.

Escolhi a hiperventilação como estratégia para explorar o fenômeno do feedback na dança que estou interessada em produzir. Entendo feedback como um processo em que “o efeito de uma pequena perturbação em um sistema inclui um aumento na magnitude da perturbação”. A respiração acelerada produz concretamente alterações no meu estado psicofísico, e assim mantenho um processo de constante atualização de sensações. O resultado é uma dança que tende à instabilidade, à desorientação e ao exagero – qualidades que, consequentemente, me levam à exploração do paradoxo entre o “mover” ou “ser movido”.

Michelle Moura é performer e coreógrafa. Suas últimas criações são “Cavalo” (2010) e “Big Bang Boom” (2012), ambas movidas pela busca de estratégias para responder temporariamente a pergunta “o que move um corpo?”. Como performer colaborou e trabalhou com Dani Lima (RJ), Alex Cassal (RJ), Fabian Gandin (AR) e Vincent Dupont (FR). Foi cofundadora e integrante do extinto Couve-Flor Mini-Comunidade Artística Mundial. Estudou dança na Casa Hoffmann, Curitiba e em Essais – Centre National de Danse Contemporaine d’Angers (dirigido por Emmanuelle Huynh), França e atualmente é mestranda em coreografia (Amsterdam Master of Choreography – AMCh) pela AHK.

Sobre expectativas e promessas
Alejandro Ahmed / Grupo Cena 11 (Florianópolis)
Galeria Olido
7 a 10 de novembro de 2013
Quinta a sábado às 20h, domingo às 19h

 

 

 

Sobre expectativas e promessas é uma vontade de desaparecimento. Uma procura por ferramentas em dança que tratem a identidade como emergência, fluxo de descontinuidades ou resposta às situações propostas pela relação no tempo entre ambiente, corpo e movimento. Questionando a aparência como superfície mediadora que engendra definições sobre quem somos, a coreografia pode ser pensada como instância relacional ou “vontade” que se territorializa em outros corpos, em novos devires num relacionamento contínuo no qual a ideia de origem ou ascendência autoral não tem lugar. Com a implosão desse porto seguro da origem identitária, a deliberação e inevitabilidade propõem, através do movimento, um encontro com o passado – não com o passado histórico, mas com aquele que instaura novas possibilidades de futuro a cada instante.

Alejandro Ahmed (1971) é coreógrafo residente, diretor artístico e bailarino do grupo catarinense Cena 11 Cia. de Dança – que completa, em 2013, vinte anos de pesquisa e criação. Junto ao Cena 11, promoveu o desenvolvimento de uma técnica voltada para o estudo dos limites do corpo. As produções do grupo ganharam diversos prêmios (Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia, APCA, Bravo!, entre outros) e participaram de diversos festivais e turnês nacionais e internacionais. O solo “Sobre expectativas e promessas” foi contemplado pelo programa Rumos Dança Itaú Cultural 2012/2014.

Som Faves
Ivo Dimchev (Sófia/Bruxelas)
FUNARTE
9 e 10 de novembro
Sábado e domingo às 19h

 

 

 

Para o solo Som Faves, Ivo Dimchev compilou uma lista de assuntos, objetos e pessoas que, de uma forma ou de outra, lhe são caros – de eventos cotidianos a histórias pessoais e reflexões sobre arte. Estes são os “favoritos” aos quais se refere o título. Com uma peruca, um teclado e uma pintura, ele entra no palco, apresenta uma ampla variedade de registros e humores e muda de um personagem extravagante para outro sem esforço. O que começa como uma colagem aparentemente incoerente se transforma quase imperceptivelmente num retrato íntimo e tragicômico do performer. É ao mesmo tempo hilário e profundo. Som Faves foi selecionado para o Theatre Festival em 2010 e apontado pela revista Time Out New York como um dos destaques de 2011.

Ivo Dimchev (1976) é um dos performers mais notáveis do atual cenário internacional de arte contemporânea. Seu trabalho é uma mistura bem dosada de performance, dança, teatro e música. Artista versátil, rompe gêneros e tabus. Dimchev desenvolveu suas primeiras performances em Sófia – Bulgária. Em 2007 foi para Amsterdã estudar na DasArts. Lá, criou várias performances, incluindo o solo “Som Faves”. Já produziu mais de trinta peças que percorreram o mundo e foi aclamado pela crítica e público. Radicado em Bruxelas, Ivo Dimchev cria oportunidades para outros jovens artistas apresentarem seus trabalhos no ‘Volksroom’, seu próprio estúdio em Anderlecht.

What they are instead of
Jared Gradinger e Angela Schubot (Berlim)
FUNARTE
15 a 17 de novembro
Sexta a domingo às 19h

 

 

 

Como podemos coexistir? Dizer “eu” significa transformar o outro em uma identidade estrangeira. Pode a intimidade abraçar a alteridade para formar uma espécie de ser comum? Se o ser se estende além dos limites da nossa pele, pode isso se tornar a evidência dos nossos múltiplos modos de existir, da simbiose através do pertencimento? Quão íntimos podemos ser? Para onde vai o excesso de intimidade? Quanto da nossa individualidade resta no final? Quantos resquícios de ego sou capaz de eliminar e de quantos preciso?

Angela Schubot e Jared Gradinger se conheceram há nove anos. Em What they are instead of eles buscam uma união incondicional.

Jared Gradinger e Angela Schubot investigam modos de extrapolar o corpo. O ponto de partida é a busca de uma união incondicional para escapar da sua própria identidade. Eles descobriram uma forte ligação e um interesse mútuo por linguagens de movimento puramente físicas e extremamente dinâmicas. Seu trabalho tem sido apresentado na Europa, América do Sul e Austrália em diversos contextos e é frequentemente combinado com atividades de ensino e pesquisa.

.whatdowefinallyshare.
Fernando Belfiore (São Paulo/Amsterdã)
FUNARTE
22 a 24 de novembro
Sexta a domingo às 19h

 

 

 

.whatdowefinallyshare. é uma performance que indaga diversos modos de “estar junto”. Três performers encaram uma jornada deixando-se afetar pelas relações estabelecidas entre si e com os demais elementos inseridos em cena. O corpo é o lugar onde o outro poderia estar. O que produzimos, disseminamos e experimentamos individual e coletivamente e como isso nos afeta? Intensa e com humor, a performance produz imagens fortes e misturas inusitadas.

Fernando Belfiore é coreógrafo e performer formado pela EAD/São Paulo e SNDO/Amsterdã. Trabalhou com Deborah Hay, Jeremy Wade, Ann Liv Young e Ibrahim Quraishi e apresentou suas próprias criações em diversos países da Europa e no Brasil. Sua obra “The Miserable Thing” foi selecionada para o “ITs Festival Choreography Awards” e recebeu o prêmio de melhor direção no “Festival ACT” na Espanha em 2012. É um dos artistas residentes na instituição “Dansmakers Amsterdam”, na Holanda, contexto onde criou os trabalhos “Youmust” e “.whatdowefinallyshare.” (indicado pela associação Aerowaves como um dos destaques de 2013).


7×7 no Festival Contemporâneo de Dança
hackeando parasitando revelando outros dados sampleados

Se você é um(a) artista que gosta de falar sobre o que viu depois de ter assistido a trabalhos de Dança e faz isso no corredor ou em bares com seus amigos, o 7×7 te convida a compartilhar suas paixões, reflexões, desgostos ou crueldade. Escreva, produza imagens e manifeste a sua percepção como quiser: contato@seteporsete.net

Em 2009, Sheila Ribeiro, que vivia em Nanjing, veio para São Paulo dançar no Festival Contemporâneo de Dança. Percebendo um tipo de precariedade de reverberação dos trabalhos, perguntou a primeira pessoa ao seu lado se havia assistido a sua apresentação e se gostaria de escrever sobre o que viu, era Bruno Freire, artista que atualmente integra o projeto. O 7×7 – que desde então mora (também) no FCD – é um conectivo de “artistas-interlocutores”; uma vontade de instigar e reverberar uma rede comunicacional imaterial, sinérgica e transnacional, através de críticas-poéticas sobre, para, com, e em torno da dança contemporânea e de seus artistas: o artista escreve sobre outro artista de maneira artística.


OFICINAS DE CRIAÇÃO

Pesquisa e improvisação de movimento
com Sofia Dias e Vítor Roriz (Lisboa)
Galeria Olido
29 e 30 de outubro, terça e quarta, das 14h às 19h

Nesta oficina vamos pesquisar algumas formas de entrar no movimento, através de estados físicos/mentais que exploramos nos nossos trabalhos. São estados que seguem determinadas regras que exigem uma grande concentração, mas, uma vez dominadas, o importante é encontrar formas de transgressão e desvio com base no imaginário individual. Desta forma pretende-se que cada pessoa explore a sua própria linguagem física dando especial atenção à qualidade da “presença”. De que forma é que alguns detalhes na ação (postura, timing, olhar, etc.) informam/influenciam a nossa presença e a leitura daquilo que fazemos?

A oficina será dividida em três partes: ativação da percepção e mobilização geral, improvisação e pesquisa, que poderá ser feita em colaboração ou individualmente, e um momento de reflexão e retorno à calma.

Percepção Física e Composição Generativa
com Alejandro Ahmed / Grupo Cena 11 (Florianópolis)
Galeria Olido
5 e 6 de novembro, terça e quarta, das 14h às 19h

A oficina “Percepção Física e Composição Generativa” tem o intuito de instrumentalizar o corpo para processar informações de maneira a torná-lo mais apto a observar e fazer um exercício crítico constante do movimento, buscando um controle mais apurado das dramaturgias que este pode propor. Transitando por informações que guiam os atuais interesses estéticos do Grupo Cena 11, esta oficina é voltada para o exercício de estratégias coreográficas que evidenciam a coautoria de cenas formuladas através de emergências composicionais. Estas estratégias propõem uma dança em que a deliberação das ações não seja o mote primeiro de sua composição, mas que se formule através de um controle remoto onde percepção e adaptação são instrumentos de negociação com outros corpos e limites.

Esta oficina foi realizada com o subsídio do Programa Rumos Itaú Cultural Dança 2012/2014.

On Becoming…
com Jared Gradinger e Angela Schubot (Berlim)
Galeria Olido
12 e 13 de novembro, terça e quarta, das 14h às 19h

Há inúmeras maneiras de coexistir se assumirmos que o corpo não acaba na nossa pele. Este laboratório ou prática compartilhada foca nos modos de vivenciar integralmente as formulações do corpo, sem cair nas armadilhas da representação. O ponto de partida será o desenvolvimento de um corpo mutável capaz de desdobrar-se de diversas maneiras ficando igualmente atento às variações de significado que produz. No começo da oficina ofereceremos duas horas de treinamento com o intuito de desfazer os hábitos do corpo e superar sua zona de conforto. Usaremos os recursos que orientam a nossa prática artística (dedicada à fisicalidade extrema em constante negociação com o discurso filosófico e, por vezes, esotérico) como base para explorar diversos graus de interação física oscilando entre o orgânico e o social. Esta exploração servirá para fornecer material e encorajar uma confiança performática que nos levará a um território não hierárquico e a uma presença onde o desejo se torna tão abundante que só um corpo móvel e uma mente ágil serão capazes de realizar negociações imediatas.

Projeto realizado pelo Goethe-Institut – Temporada Alemanha+Brasil 2013-2014.

Público: estudantes e profissionais de dança.

As oficinas são gratuitas. Os interessados devem enviar currículo resumido até 20 de outubro para o e-mail fcd@estudionave.com. Os selecionados serão contatados por e-mail até 25 de outubro.


FICHA TÉCNICA DO FCD

Direção artística: Adriana Grechi
Direção geral: Amaury Cacciacarro Filho
Colaborador internacional: Wagner Schwartz
Direção técnica: André Boll
Assistência de direção: Erika Fortunato
Produção: Guilherme Elias, Juliana Santos, Renata Laili e Túlio Rosa
Edição dos textos do programa: Lucía Yáñez
Projeto gráfico: Fernando Bergamini
Imagens: Edu Marin
Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques
Registro em vídeo: André Menezes
Registro fotográfico: Jônia Guimarães
Agradecimento: Chico Jofilsan
Técnica: Santa Luz
Idealização: Fractal Produção Cultural
Realização: FUNARTE, Secretaria Municipal de Cultura e Galeria Olido
Apoio: ProAC – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo 2012
Apoio Institucional: Programa Rumos Itaú Cultural Dança 2012/2014 e Instituto Goethe – Ano Alemanha Brasil 2014
Parceiros: Cooperativa Paulista dos Profissionais de Dança, Festival Panorama da Dança e Jornal Folha de São Paulo

SERVIÇO:

Festival de Dança Contemporânea
29 de outubro até 24 de novembro de 2013

GALERIA OLIDO
Av. São João, 473 – Centro – São Paulo/SP.
Entrada franca.
A bilheteria abrirá uma hora antes do início do espetáculo.

FUNARTE – Complexo Cultural Funarte
Sala Renée Gumiel
Alameda Nothmann, 1058 – Santa Cecília – São Paulo/SP.
Ingressos: R$ 5,00 e R$ 2,50.
A bilheteria abrirá uma hora antes do início do espetáculo.

Fonte: FCD