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Caleidos estreia “Fortuna”, espetáculo que discute a sociedade do cansaço

Crédito da foto: Fábio Brazil

Na próxima sexta-feira (24/09), às 20h, o Caleidos Cia de Dança vai realizar a estreia de Fortuna, espetáculo de dança. A estreia será presencial na sede da Cia paulistana, na Lapa, seguida de apresentações até 10 de outubro. Seguindo os protocolos de segurança e saúde, o Caleidos recebe público restrito para assistir o trabalho. A cada apresentação, 8 espectadores – nº máximo – são conduzidos pelos diretores da Cia a uma imersão nesse trabalho que une a dança contemporânea e o Mito de Orfeu para discutir a Sociedade do Cansaço.

A cada sessão, oito espectadores – com máscaras e distanciamento – são convidados pelo Caleidos a mergulhar num universo imersivo onde se misturam a megalópole pandêmica de São Paulo e o Hades da Mitologia Grega. O público, espécie de Orfeu em passagem pelo Hades, é convidado a circular pelo espaço e refletir, por meio da arte, sobre a Sociedade do Cansaço na qual estamos inseridos.

O espetáculo “Fortuna” do Caleidos Cia realiza um mergulho por meio da dança contemporânea no Mito de Orfeu para discutir a Sociedade do Cansaço descrita pelo filósofo Byung-Chul Han. Arte como compromisso com a contemporaneidade.

“Fortuna” é o primeiro resultado presencial do Projeto Capital Social do Caleidos Cia – contemplado pela 27ª edição do Programa Municipal de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo –   trata da redução das vivências pessoais e sociais aos valores do capital. O espetáculo propõe uma imersão num ambiente híbrido: o Hades mitológico e a cidade de São Paulo.

Capital Social, foco do projeto de pesquisa do Caleidos, é um conceito que pertence à contabilidade e à sociologia. Em uma sociedade cada vez mais regida pelo universo do contábil, o conceito migrou destes campos para a fala comum e atualmente é uma espécie de mercadoria a ser negociada nas interações sociais. Para a contabilidade, Capital Social é o valor financeiro investido pelos sócios na abertura de uma empresa; é o valor inicial da empresa. Para Pierre Bourdieu, pensador francês que delimitou o termo para a sociologia, Capital Social é uma categoria do Capital. É um tipo de valor ligado ao indivíduo ou à sua classe social que se relaciona diretamente com a reprodução do sistema ou com a hipótese de mobilidade social.

Em nossa sociedade, conforme a vivemos nesse início de século – regida pelos mercados, tendo como ideal de vida o dinheiro, medida pelo desempenho individual, ameaçada pela depressão e pelo cansaço, guiada por coaches e livros de autoajuda financeira – Capital Social se torna o mote de interesses econômicos travestido de relações sociais.

O espetáculo  “Fortuna” explora por meio da dança a Sociedade descrita pelo filósofo Byung-Chul Han, na qual os indivíduos se submetem não apenas ao Capital, mas tomam a si mesmos como objeto do Capital e são levados a se autoconsumir até o esgotamento.

“Fortuna” provoca os espectadores por meio de uma sobreposição de imagens produzidas pelas cenas: ícones de uma megalópole empobrecida pelo avanço neoliberal projetados no mesmo cenário simbólico do sagrado e do mitológico. O Ifood e o castigo de Tântalo reunidos no mesmo ambiente imersivo.

Nesse espaço – simbólico e caricatural ao mesmo tempo – outros planos se sobrepõem: vida e morte, dor e prazer, cotidiano e eternidade. O público, o Orfeu visitante, descola-se pelo espaço seguindo os anfitriões – os diretores do trabalho, Isabel Marques e Fábio Brazil. Os interpretes-criadores – Bruna Mondeck, Nicolli Tortorelli e Ricardo Mesquita – deslocam as cenas e o olhar do público nesse ambiente imersivo misturando em seus corpos os diversos planos dramatúrgicos do trabalho.

“Fortuna é o nome de uma deusa romana, regente acaso e da sorte, de seu nome derivam as ideias de riqueza material e destino que essa palavra traz em português. Esse misto de materialidade escancarada e manifestação de algum sagrado, contamina todo o trabalho. Dois mundos convivem ali, com suas regras, seus tempos e suas imagens divergentes.” – explica Fábio Brazil, dramaturgo e diretor do Caleidos Cia.

Os espectadores – apenas oito por apresentação – serão conduzidos nesse ambiente como visitantes do Hades – mundo inferior e pós-morte entre os gregos. “Para nós, o público é uma personificação de Orfeu. É visitante no Hades e torna-se estrangeiro em nosso mundo. Convocar o corpo e a dança para habitar esse não-lugar, onde tantas imagens se misturam e de alguma forma se repelem, foi um grande desafio” – completa Isabel Marques que dirigiu e coreografou o trabalho.

Ficha Técnica

Direção: Isabel Marques
Codireção e dramaturgia: Fábio Brazil
Elenco: Bruna Mondeck, Nicolli Tortorelli e Ricardo Mesquita
Trilha original: Marcelo Sena
Iluminação e cenário: Fábio Brazil
Figurino: Caleidos Cia. de Dança
Produção: Mobilis Ltda – ME
Filmagem/vídeo: Marcelo Sena e Filipe Marcena  – (Cia Etc)
Produção: Mobilis Ltda ME

Serviço

Fortuna
Caleidos Cia de Dança
Sexta-feira, 24 de setembro de 2021, às 20h (estreia)
Temporada até 10 de outubro de 2021
Sexta e sábado, às 20h, domingo, às 19h
Local: Sede da Caleidos Cia de Dança
Rua Mota Pais 213 – Lapa, São Paulo
Ingressos: Gratuitos. Entrar em contato com o Caleidos
Distribuição gratuitas de máscaras PFF ao público
Capacidade: Máximo de oito pessoas

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