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Homens na Dança? Sim!

Como jornalista, eu já escrevi para vários blogs, dentre eles o do site Netdança, para o qual elaborei seis postagens em um período aproximado de três meses. Atualmente, quem gerencia os posts por lá é a Dryelle Almeida, do Mundo Bailarinístico, mas os textos que fiz continuam disponíveis…

Ontem, depois de muito tempo, eu os reli e me surpreendi com o que eu fiz. Aqueles textos tão bem escritos que resolvi compartilhar quatro deles aqui no Agenda de Dança!

E vou começar com algumas palavras de Inês Bogéa, diretora da São Paulo Companhia de Dança.

“Delicada, toda de branco e na ponta dos pés.
Essa é a imagem da bailarina que toda menina sonhou um dia ser.”
Frase dita no documentário “Uma Roupa que Dança”

É justamente essa concepção que a maioria das pessoas têm quando pensam em ballet: uma modalidade voltada para o público feminino. Talvez essa ideia seja reforçada pelos movimentos delicados, pela música clássica que acompanha as aulas e, até mesmo, pela vestimenta de cores e tecidos suaves.

Quando se fala em “homens na dança”, especialmente no ballet, existem diversos tabus e preconceitos. É muito comum ouvirmos por aí, entre outras afirmações, que “homem que faz ballet é gay”. O que as pessoas não entendem é que o ballet é, antes de qualquer outra coisa, um exercício que traz muitos benefícios ao corpo e a mente, tal como a Ginástica, a Yoga e o Pilates, e ambos não definem a sexualidade de ninguém, muito menos independem do gênero de quem os pratica.

Mikhail Baryshnikov e Rudolf Nureyev
Duas Lendas do Ballet Mundial

Mas acreditem, as coisas nem sempre foram do jeito que são… Houve uma época na história em que o ballet era exclusivamente do “Clube do Bolinha”. Sim, era uma modalidade restrita aos homens, e mulheres não podiam praticar!!! Surpresos? Pois é… Sabendo disso, fica uma pergunta: Como os papeis se inverteram?

O Ballet teve origem na Itália por volta do ano 1400, e na França passou por um longo processo de evolução. Até o final do século XVII, a supremacia do ballet era masculina. Somente nessa época as escolas passaram a aceitar mulheres, mas ainda assim os homens reinavam absolutos, pois elas eram obrigadas a dançar com roupas longas e muito pesadas, dificultando a mobilidade.

A partir do século XVIII as coisas começaram a mudar… Marie Camargo foi a primeira a encurtar as saias um pouco abaixo do joelho, para que as pessoas pudessem ver os passos que estava executando. Sua ousadia causou frisson e sensação em Paris, e abriu caminhos para que outras transformações ocorressem.

No Romantismo do século XIX, surgiram os tutus românticos, com saias feitas de tule geralmente na altura da panturrilha, e as sapatilhas de ponta, que colocaram as mulheres em evidência. Nessa época, as próprias histórias contadas nos ballets valorizavam as personagens femininas, colocando-as como o ideal de amor de jovens sonhadores, e até mesmo como protagonistas: A Sílfide, Giselle, Nathalie e Ondine, só para citar alguns exemplos. Nesse momento, os homens passaram a assumir o papel de “partner”, os parceiros das grandes estrelas. Durante o período clássico, que teve seu auge na Rússia Imperial, eles recuperaram um pouco do status de “bailarino”, mas as mulheres já haviam ganhado espaço e repercussão e se consagraram no cenário da dança, adquiriram luz própria.

Cena do Ballet “Espártaco”
The Bolshoi Ballet

Foi dessa história toda, e da constante evolução que se seguiu após os eventos narrados, que acabou surgindo a imagem da bailarina que foi descrita por Inês Bogéa, de delicadeza e suavidade, encanto e mistério. Talvez sejam esses elementos que pesam e até chocam as pessoas quando um rapaz decide dançar. Mas ao meu ver, quando isso acontece, uma barreira é quebrada e um passo está sendo dado a fim de se escrever um novo capítulo nesta grande jornada.

Homens que dançam são homens com consciência corporal. Eles são nossos guerreiros, nossos príncipes… Mais do que simples partners, são artistas de primeira grandeza que merecem todos os nossos aplausos!