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Taanteatro Companhia propõe reflexão sobre meio ambiente e mudanças climáticas por meio da linguagem do teatro coreográfico de tensões

Crédito da foto: Jorge Nldozy

Ciente da função criativa e ética da arte, de refletir e investigar, a Taanteatro Companhia, dirigida por Maura Baiocchi e Wolfgang Pannek, direciona sua nova criação a um questionamento das condições de vida na Terra diante da conjuntura história em que vivemos. Para espelhar a realidade, optou-se por imagens fortes. Prepare-se!  Com duração total de aproximadamente 80 minutos e abordagem transmídia – dança, teatro, literatura, pintura e vídeo -, APOKÁLYPSIS estreia dia 10 de dezembro de 2021, com temporada nos dias 11, 12 e 17, 18 e 19 de dezembro, às 20h, com transmissão pelo canal da Taanteatro no youtube: https://www.youtube.com/c/TaanteatroCompanhia.

Repensado e reestruturado no formato de filme em decorrência da pandemia de Covid-19, a criaçãé formada por três solos teatro-coreográficos, dirigidos por Maura Baiocchi e com textos do diretor alemãWolfgang Pannek (ele escreveu três poemas, um para cada performance)que transitam na interface entre o corpo, artes audiovisuais, poesia e filosofia. Cada solo foi criado e realizado em ambientes distintos e estão integrados na edição do filme. A investigação/ reflexão proposta aponta para três eixos: os personagens shakesperianos Hamlet e Ophelia, o cenário global contemporâneo de catastróficas ameaças sócio-políticas e ecológicas e o pensamento apocalíptico da tradição judaica-cristã.

Para a diretora Baiocchi, APOKÁLYPSIS é uma tentativa artística de responder aos desafios ecopolíticos da atualidade. “Triangulamos esses desafios – da pandemia, da exploração dos recursos fósseis e da poluição ambiental – com personagens shakespearianos icônicos (Ophelia, Hamlet) e com o horizonte apocalíptico do pensamento ocidental. Essa constelação de uma juventude face à ameaça da extinção de suas condições existenciais constitui o cerne do trabalho.” Com trajetória internacional e vasto repertório teatro-coreográfico autoral e premiado, a Taanteatro Companhia comemora seus 30 anos de palco, pesquisa e criação interdisciplinar com foco no campo das artes performativas do Brasil com a nova obra.

Sobre a direção

Maura explica que coube a cada performer relacionar os problemas globais com suas respectivas experiências pessoais e levar o estado de tensão existencial decorrente desse confronto à cena. “Do ponto de vista coreográfico e, no intuito de criar uma conexão formal entre esses solos, recorri à uma dramaturgia espaço-temporal que denomino traajeto e que desenvolvi primeiramente e em profundidade em Subtração de Ophelia (1989).” Nos solos que compõem a obra, a coreógrafa conta que foi intensificado o trabalho com glossolalias, uma linguagem que já integrava algumas das encenações do repertório da Taanteatro Companhia. “Diferentemente de um texto falado e graças ao seu caráter não narrativo, intensivo e afetivo, a glossolalia ganha uma dimensão mais abstrata que a aproxima da dança e que interessa ao taanteatro ou teatro coreográfico de tensões.”

As/os performers – a brasileira Mônica Cristina Bernardes, o moçambicano Jorge Ndlozy e a argentina Candelaria Silvestro – escolheram seus respectivos focos temáticos e realizaram suas pesquisas teóricas e de campo, seja a respeito da Covid-19, da exploração de recursos fosseis e da poluição de recursos hídricos e da avifauna. Estudaram textos literários, jornalísticos e científicos, além de visitar e vivenciar os ambiente performativos onde as filmagens seriam realizados. “Com exceção dos ensaios com Jorge Ndlozy, com quem trabalhei de forma presencial, seguimos uma rotina de ensaios individuais e de conversas coletivas regulares online. Para os ensaios as/os performers traziam sua propostas ajustadas ao traajeto e, gradativamente, lapidamos as respectivas partituras de dança. A escritura dos poemas que sintetizam as problemáticas abordadas ficou a cargo do Wolfgang Pannek e eu criei as glossolalias correspondentes a esses textos.”

Personagens shakesperianos saltam para o século 21

Os solos transportam personagens shakesperianos da época medieval para o século 21, atualizando o questionamento “ser ou não ser” frente às mudanças climáticas e à poluição ambiental, a partir de perspectivas apocalípticas. “Os jovens Hamlet e Ophelia são deslocados da corrupção do ambiente de poder feudal para o meio ambiente do século 21, onde os processos de destruição transcendem o tecido social e passam a colocar as condições existenciais biológicas em perigo. Trata-se de um deslocamento que demonstra que as novas gerações enfrentam uma ordem inteiramente diferente de desafios vitais.  “Face a essas realidades fora dos eixos, cada solo articula por meio do corpo a tensão existencial “entre ser e não ser” e presentifica ‘revelações’ (apocalipses) poéticas vivenciadas no limiar entre negação e afirmação da vida”, comenta o autor.

Solos – cemitério e barranco, pedreira e lagoa de Ansenuza (Mar Chiquita)

A escolha dos locais de filmagem está diretamente vinculada às questões abordadas por cada solo. Cada um dos ambientes pitorescos, citados abaixo, concretiza à sua maneira o impacto destrutivo da ação humana sobre o meio ambiente. No caso de Hamlet em Necropolis (40 min.), com o dançarino moçambicano Jorge Ndlozy, que é uma espécie de meditação coreográfica sobre a morte em face à pandemia, a filmagem foi realizada em São Paulo, no cemitério Vila Formosa, a maior necrópole do América do Sul, e num imenso barranco de terra e barro, resultado do desmatamento e aterramento de um morro na Mata Atlântica – como se fosse o interior de uma cova gigante – em São Lourenço da Serra. O filme é um rito de ressignificação da morte das vítimas da pandemia de Covid-19e um protesto poético contra uma desastrosa política governamental de saúde.

Ophelia de Ansenuza (35 min.), com a pintora-performer argentina Candelaria Silvestro, tem imagens captadas à beira a Lagoa Mar Chiquita, no interior da província de Córdoba, na Argentina, uma das maiores lagoas mundiais de água salgada e habitat dos flamingos, em risco de extinção. Trata-se de um lugar de beleza árida ameaçado pela poluição dos cursos d’água. Evoca a singularidade, beleza e delicadeza de um ecossistema sul-americano sob perigo de destruição.

Ophelia (te)ctônica (35 min.), protagonizado pela atriz e dançarina brasileira nica Cristina Bernardes, foi filmado dentro de uma pedreira de granito, em Itapecerica da Serra. Aborda a exploração dos recursos fósseis localizados nas profundezas da Terra, planeta reduzido a recurso por uma ideologia capitalista do progresso tecno-científico.

Imagens impactantes

Sobre as cenas de abertura e encerramento de Hamlet em Necropolis, a equipe de filmagem surpreendeu-se ao encontrar imagens tão impactantes. “Visitamos o cemitério pela primeira vez em junho de 2021, no auge da pandemia. Sabíamos dos enterros em grande escala no cemitério e, em certa medida, estávamos cientes dos desafios enfrentados pelos funcionários do cemitério, mas não imaginávamos esse cenário de embrutecimento. Havia ossos e crânios espalhados a esmo, sem nenhum respeito perceptível com os restos mortais de pessoas desterradas para abrir covas novas e sem cuidado com eventuais visitantes do cemitério”, observa Wolfgang.

APOKÁLYPSIS é a contrapartida cultural da Taanteatro Companhia para o edital Proac Expresso Lei Aldir Blanc – Eixo Premiação por Histórico em Dança (2020).

Sobre a Companhia

Criada em 1991 em São Paulo pela coreógrafa Maura Baiocchi, a Taanteatro Companhia, consolidou-se em 1992 com O Livro dos Mortos de Alice, obra teatro-coreográfica em quatro capítulos e com seis horas de duração, apresentada no Teatro SESC Pompéia. Nesse período inaugural o projeto Taanteatro – uma pesquisa para a transformação da dança é premiado com as Bolsas VITAE de Arte e Cultura. O princípio tensão constitui o fio condutor da produção coreográfica, didática e conceitual do taanteatro ou teatro coreográfico de tensões. Desde 1994, o diretor alemão Wolfgang Pannek é diretor da companhia, ao lado de Maura Baiocchi. Em 2001, a Taanteatro abriu sua sede rural em São Lourenço da Serra, SP. Ao longo de sua trajetória de 30 anos a companhia encenou mais de 80 espetáculos autorais e abordou a vida e obra de artistas e pensadores como Frida Kahlo, Lewis Carrol, Florbela Espanca, William Shakespeare, Antonin Artaud, Comte de Lautreamont, Friedrich Nietzsche, George Tabori, Fernando Pessoa, Samuel Beckett, Gilles Deleuze, entre outros.

Foi premiada múltiplas vezes nas esferas municipal, estadual e federal (Prêmio APCA, Programa Municipal da Fomento à Dança, Prêmio Funarte Klauss Vianna, Prêmio Denilto Gomes). Atuou em diversos estados brasileiros e internacionalmente no Japão, na Alemanha, Argentina, França, Inglaterra, Bélgica, EUA, Moçambique e Rússia. A equipe de criação multidisciplinar da companhia inclui artistas do Brasil, da Alemanha, Argentina e de Moçambique. Entre seus projetos internacionais destacam-se: Mostra 95 Butoh e Teatro Pesquisa (1995), Artaud 100 Anos (1996), A Conquista (1996/98), Intercâmbio Cultural Matola-Brasil (2005), Hans Thies Lehmann Brasil Tour 2010Ocupação Artaud (2015), Ocupação Deleuze (2017), Ocupação Taanteatro (2018), Antonin Artaud’s The Theater and the Plague (2019) e 1st International Ecoperformance Festival (2020).

Serviço

APOKÁLYPSIS (Espetáculo de dança-teatro no formato filme)
Taanteatro Companhia

Dias 10, 11, 12 e 17, 18 e 19 de dezembro de 2021
Sexta, sábado e domingo, às 20h
Local: Virtualmente – Taanteatro no youtube: https://www.youtube.com/c/TaanteatroCompanhia 
Ingresso: Grátis

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