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Sessão “Pipoca com Ballet” #006: Especial “Dia Internacional da Mulher”

A nossa “Sessão Pipoca com Ballet” de hoje não vai ser focada em apenas uma história, mas em várias. Essa semana nós comemoramos o Dia Internacional da Mulher e, para prestar uma homenagem, nós vamos conhecer melhor algumas peças em que as protagonistas são mulheres. Entre tantas, escolhemos sete personagens, de diferentes personalidades e todas com alguma lição para nos ensinar.
Quem são elas?

La Fille Mal Gardée

O ballet mais antigo encenado nos dias de hoje é protagonizado por uma jovem que, podemos dizer, era à frente de seu tempo. Lise lutou contra as convenções de sua época para escapar de um casamento arranjado planejado pela mãe, a Viúva Simone. O desejo da velha senhora era que ela se unisse em matrimônio com o filho de um rico fazendeiro, mas a garota era apaixonada por um simples camponês. Entre idas e vindas, Simone se convence do amor do casal e, enfim, aceita a união. Com sua garra, Lise nos ensina que devemos lutar por nossos sonhos, por mais simples e improváveis que eles pareçam.

Natalia Osipova como Lise
La Fille Mal Gardée – The Royal Ballet
Crédito: Tristram Kenton

Para assistir:
Desde o seu lançamento, a peça nunca teve uma partitura definida! Há, pelo menos, seis arranjos musicais diferentes para contar essa história. A versão mais conhecida é a de John Lanchbery sobre o original de Ferdinand Hérold, com coreografia de Frederick Ashton. No blog Vídeos de Ballet Clássico, estão disponíveis cinco interpretações diferentes: 4 pelo Royal Ballet e 1 pelo Australian Ballet.

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A Sílfide

A peça por si só já representa uma grande revolução na história do ballet. Se não bastasse todo o significado que ela tem, a história ainda nos deixa uma lição. O enredo fala sobre a mulher ideal, aquela que é perfeita e inatingível, e essa imagem é representada na forma de um ser etéreo. As Sílfides são elementais do ar, a forma feminina dos Silfos e muito semelhante às fadas. É por um desses seres que um fazendeiro escocês se apaixona e abandona tudo o que conhecia para perseguir esse sonho. Em determinado ponto da história, ele pensa que conseguiu alcançar seu objetivo, mas percebe que tudo não passou de uma ilusão e perde tudo, o que era sonho e também o que era real. O grande ensinamento que a Sílfide nos passa é o de que devemos sonhar sim, mas com os pés no chão, para que realmente possamos realizar os nossos desejos e não perdê-los de vista, como se fosse um sopro de ar.

Para assistir:
Assim como La Fille, o ballet A Sílfide também possui versões diferentes. A original é de 1832, estreada pela Ópera de Paris. Com música de Jean Scheitzhoeffer e coreografia de Filippo Taglioni, essa montagem permaneceu no repertório da companhia até 1863 e ficou perdida por mais de um século. Somente em meados da década de 1970, o bailarino Pierre Lacotte fez uma reconstrução da obra para Ópera de Paris e esta permanece até os dias atuais.

Anastasia Limenko como A Sílfide e Dmitry Sobolevsky como James
A Sílfide – Stanislavsky Ballet
Coreografia: Filippo Taglioni
Reconstrução coreográfica: Pierre Lacotte

Em 1836, quatro anos após a estreia original, surgiu a montagem de August Bournonville para o Royal Danish Ballet. Desde que conheceu a versão francesa, ele ficou encantado com o tema, mas na impossibilidade fazer o mesmo feito pela Ópera de Paris, ele decidiu criar uma versão própria, com nova música composta por Herman Lovenskiold. Nela, a história é contada de forma mais concisa e o elenco escocês tem características mais folclóricas, deixando as sapatilhas de ponta apenas para o elenco de sílfides. Por sempre ter permanecido no repertório do Royal Danish Ballet ao longo dos anos, essa se tornou a versão mais encenada por diversas companhias ao redor do mundo.

Ekaterina Krysanova como A Sílfide e Vyacheslav Lopatin como James
A Sílfide – The Bolshoi Ballet, 2012
Coreografia: August Bournonville
Produção: Johann Kobborg

No blog, estão disponíveis duas montagens da versão de 1832 e cinco da versão de 1836.

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Giselle

Esse é, certamente, um dos ballets mais encenados desde a sua estreia. Essa doce camponesa vive a alegria do amor adolescente, mas vê seu mundo cair em face da traição daquele que tanto amava e acaba morrendo. Ela se transforma em um espírito de natureza vingativa, que deveria castigar com a morte todos os homens que encontrasse pelo caminho. Mas em seu íntimo, Giselle ainda era mesma e acreditava na sinceridade dos sentimentos de seu amado. Além de perdoá-lo, consegue livrá-lo de ter o mesmo destino que teve, podendo dessa forma descansar em paz. A lição que aprendemos com essa jovem mulher é a de que a vingança não leva a nada, pois só o amor e o perdão são capazes de curar e libertar.

Giselle – Teatro Alla Scala

Para assistir:
Sem sombra de dúvidas, essa peça está no “top 5” de repertórios mais montados pelas companhias. Entre tantas interpretações, as mais marcantes que podemos destacar são as Giselles de Lynn Seymour, Carla Fracci, Alessandra Ferri e Marianela Nuñez.
Ao todo, são 29 montagens disponíveis para vocês conferirem.

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Esmeralda

A história desse repertório foi baseada no livro O Corcunda de Notre Dame (No original: Notre-Dame de Paris), e coloca em foco a trajetória de uma cigana destemida, mas que tem uma vida amorosa bastante complicada. Esmeralda se casa com um poeta para salvá-lo da morte, impede que um sineiro corcunda, secretamente apaixonado por ela, seja maltratado e, se não bastasse, ao descobrir que o amor de sua vida está noivo de outra pessoa, se sente incapaz de declarar o seu amor, tudo para que ele fosse feliz. Essa mulher de grande coração nos ensina a praticarmos mais a generosidade, não importando as circunstâncias.

Maria Alexandrova como Esmeralda
Esmeralda – The Bolshoi Ballet
Crédito: Damir Yusupov

Para assistir:
A peça está presente no repertório de poucas companhias, havendo apenas quatro montagens completas disponíveis. A curiosidade fica por conta do conhecido Grand Pas de Deux. Apesar de ser muito encenado em galas e festivais, a coreografia não pertence ao repertório completo, embora as músicas de ambas sejam do mesmo compositor (Cesare Pugni).

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Paquita

As pessoas ficam tão impressionadas com o Grand Pas do casamento de Paquita que acabam se esquecendo da gênese da história original, que tem suas raízes no Romantismo e se passa na Espanha. O enredo é sobre uma jovem que, na infância, foi raptada por um grupo de ciganos. Ela cresce entre seus costumes com uma única lembrança de sua família: um camafeu com a foto de seu pai. Mas, as mentiras nunca ficam escondidas por muito tempo. Quis o destino que a jovem Paquita conhecesse e se apaixonasse por um nobre francês, mas se recusava a aceitar esse sentimento, que era recíproco, por acreditar que era de uma classe mais baixa. Nos entremeios da história, a cigana salva a vida do rapaz de uma armadilha e ao revelar essa história para a família dele, tem uma grata surpresa: ela descobre que seu pai, morto pelo mesmo grupo de ciganos que a criara, era parente da família que acabara de conhecer. Ao saber de sua verdadeira origem, a jovem não refreia mais o amor que sentia pelo rapaz e aceita se casar com ele. A lição que Paquita nos ensina é que, apesar de passarmos por tantos dissabores, a solução sempre virá ao nosso encontro. Para isso, temos que estar atentos aos sinais que a vida constantemente nos envia.

Ludmilla Pagliero como Paquita
Paquita – Ópera de Paris em turnê no Teatro Bolshoi
Crédito: Damir Yusupov

Para assistir:
Como dito no início, o Grand Pas de Paquita é a parte mais popular dessa história e costuma ser montada por diversas companhias ao redor do mundo. Mas a história completa ficou perdida durante muito tempo, até Pierre Lacotte fazer uma reconstrução da obra para a Ópera de Paris, que finalmente uniu as duas partes dessa obra criada em épocas distintas: as coreografias de Joseph Mazilier e Marius Petipa e as músicas de Edouard Deldevez e Ludwig Minkus. Essa versão está disponível para download.

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Mais recentemente, Alexei Ratmansky fez uma nova reconstrução da obra para o Bavarian State Ballet, mas que ainda não possui gravação oficial disponível.

Sylvia

Muito admirada pela grandiosidade de sua música, a peça narra a história de um grupo de caçadoras que serve a deusa Diana (Ártemis na mitologia grega), lideradas por Sylvia. Todas as jovens que desejam servir a essa deusa devem fazer um juramento, e uma das condições para tal era a de abandonar o amor e a companhia dos homens. Mas o destino prega uma peça à nossa heroína, que ganha dois admiradores: um pastor e um caçador. O primeiro é muito apaixonado por Sylvia, acaba ferido por aquela que ama, mas tem a vida salva pelo deus Eros (Cupido na mitologia romana) e ganha a oportunidade de partir em busca desse amor. Já o segundo é obcecado por Sylvia e quer tê-la a todo custo. Mas por intermédio de Eros, o coração de Sylvia já era do pastor Aminta, e nem mesmo o rapto que sofreu e a ira da deusa a quem servia a fez desistir de encontrar o seu verdadeiro caminho. Essa destemida caçadora nos ensina que nada é para sempre. Tudo pode mudar quando você menos esperar e algumas dessas mudanças podem nos mostrar o nosso verdadeiro caminho.

Isabella Boylston como Sylvia e Xander Parish como Aminta
Sylvia – American Ballet Theatre
Crédito: Rosalie O’Connor

Para assistir:
A peça teve várias montagens desde a sua estreia, mas nenhuma das que foram feitas no século XIX se perpetuou. Hoje em dia, a leitura mais famosa é a versão de Frederick Ashton, montagem oficial do Royal Ballet e que está presente no blog para download.

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Raymonda

O último grande trabalho de Marius Petipa tem contornos que já remetem ao Neoclassicismo, a começar pelo enredo, que não é tão emocionante. Uma história típica dos tempos de cavalaria que se passa na época da quinta cruzada, chefiada pelo rei húngaro André II. Raymonda é uma mulher nobre que tem o seu amor disputado por dois homens: um cavaleiro que luta nas cruzadas (seu noivo) e um cavaleiro sarraceno, que se apaixona perdidamente por ela. Mesmo a história não tendo tanta importância para o desenrolar das belas coreografias, Raymonda era fiel às tradições de sua família e não se deixou levar pelo que poderia ter sido uma paixão arrebatadora por um estrangeiro desconhecido. Sua lição é a de sermos fieis aos nossos princípios e não deixarmos que nada mude a nossa essência e o nosso jeito de pensar a vida.

Olesya Novikova como Raymonda e Friedemann Vogel como Jean de Brienne
Raymonda – Teatro Alla Scala
Crédito: Brescia Amisano

Para assistir:
Ao todo, sete montagens estão disponíveis no Vídeos de Ballet Clássico e vale a pena conferir todas! Mas, sempre tem aquela versão que mais se destaca. Certamente, a mais impressionante é a reconstrução feita por Sergei Vikharev para o Teatro Alla Scala.

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É claro que existem outras mulheres de personalidade no mundo do ballet. Cabe a nós olharmos com mais atenção e sensibilidade para que possamos perceber a lição que cada uma quer nos passar.