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Itaú Cultural promove seis dias com programação de dança que discute o corpo entre o tradicional e o contemporâneo

Com apresentações dos solos Orun Santana, Ana Beatriz Almeida e Bel Souza, e do espetáculo Looping – Bahia Overdub, as apresentações têm em comum a ancestralidade. Um é guiado pelo solo de capoeira de Mestre Meia-Noite, na relação entre corpo e memória, pai e filho. Outros mesclam festa, dança e política, questionam a construção da identidade nacional – nesse caso, tendo como símbolo a passista de escola de samba – ou, ainda, se inspiram em Iemanjá. A programação, também conta com a exibição de documentário sobre a primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e com oficinas.

O tradicional, em sua ampla diversidade, se mistura e se transforma a partir do contato com a cidade, com as novas tendências da tecnologia e as mudanças dos comportamentos sociais. Neste sentido, as danças voltam-se também para o modo como os códigos desse universo se movimentam, se modernizam e atualizam outros contextos. Em sintonia com essa perspectiva, entre os dias 28 de agosto e 2 de setembro (terça-feira a domingo), o Itaú Cultural apresenta, na sua programação cênica, trabalhos que discutem o corpo entre o tradicional e o contemporâneo. Os espetáculos trazem à tona a questão de que o corpo, para além de se fixar em único registro, precisa construir estratégias criativas, seja para investigar as possibilidades da linguagem ou para perpetuar suas tradições.

Looping Bahia | Foto: Pati Almeida

Considerando que as manifestações culturais são processos complexos que envolvem inúmeros diálogos dos universos simbólicos, pode-se dizer que a mestiçagem de diferentes matrizes corporais é o elemento constituinte para a criação das inúmeras danças brasileiras. No primeiro dia, 28 (terça-feira), às 14h, os três artistas que se apresentam sozinhos durante a programação e que ainda não trabalharam juntos, se encontram para ministrar a Oficina com Orun Santana, Bel Souza e Ana Beatriz Almeida. As inscrições encerraram no dia 22 de agosto.

Na quarta-feira, 29, às 20h, as apresentações começam com o bailarino pernambucano Orun Santana, em Meia-Noite com Orun Santana. Esse solo é sobre a relação de Santana com a figura de Mestre Meia-Noite, seu pai e ganhador do Prêmio Itaú Cultural 30 Anos, no ano passado. É também sobre as relações desses corpos, a fim de conhece-los, entende-los e problematiza-los. Um diálogo que o intérprete estabelece entre os processos formativos artísticos do mestre e os seus próprios, abrindo questões sobre a relação do corpo e a memória – enquanto artistas, educadores, negros, periféricos – e uma janela para a relação desafiadora que é a de um pai e um filho nessa construção e compreensão de suas histórias.

O número partiu da ideia de uma re-performance do solo de capoeira de Mestre Meia-Noite em Nordeste do Balé popular do Recife. A pesquisa corporal explora a capoeira como elemento criador e motivador do movimento, construindo um procedimento de uso da memória física como elemento criador, dialogando dramaturgicamente na relação pai e filho, mestre e discípulo. São utilizadas dinâmicas que buscam construções de imagens e estados corporais como via de investigação em cena.

No mesmo dia, às 16h, é exibido o documentário Balé de pé no chão: a dança afro de Mercedes Baptista, das diretoras Lilian Solá Santiago e Marianna Monteiro. O filme aborda a trajetória da primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, abrangendo a origem da dança afro e a atuação da dançarina no Teatro Experimental do Negro – grupo formado por Abdias do Nascimento. Depois da sessão, a diretora conversa com o público.

Sobre Sacrificio Ritual | Foto: Shai Andrade

Da dança festeira e política ao Butho

Mesclando festa, dança e política, os dançarinos Jai Bispo, Jaqueline Elesbão, Leonardo França, Rita Aquino e Talita Gomes sobem ao palco com Looping – Bahia Overdub, nos dias 30 e 31 (quinta-feira e sexta-feira), às 20h. Com direção de Felipe de Assis, Leonardo França e Rita Aquino, a paisagem predominante no espetáculo são as festas do Largo de Salvador e suas contradições. Ele emerge do encontro entre pensamento sonoro e pensamento coreográfico. Looping constitui um estudo do tempo: repetição e acumulação. Movimentos de tensão e distensão da cultura, por meio de procedimentos que organizam sonoridades, corpos e espaços. Assim como nas ruas, o que está em jogo são arranjos coletivos por meio de uma participação estético-política.

Também no dia 31, só que às 14h, o grupo promove oficina com práticas de sensibilização, expansão da escuta, laboratório de criação colaborativa, composição de movimentos e sonoridades.

Sobre Sacrifício Ritual, com Ana Beatriz Almeida, trata-se de uma performance ritual construída a partir de uma imersão, de longa duração, tanto no movimento social de povos de matriz africana, quanto no processo seletivo de passistas da Vai-Vai de 2016, ao qual a performer se submeteu. No dia 1 de setembro, sábado, às 20h, serão questionados a construção da identidade nacional, tendo o símbolo da passista em mente, e suas negociações entre a sociedade, o corpo da mulher negra, espiritualidade e o carnaval.

A obra é um exercício ético e estético produzido a partir do método corporal criado por Ana Beatriz após 11 anos de Butoh – dança que surgiu no Japão pós-guerra e ganhou o mundo na década de 1970 –, em parceria com as comunidades do Babá Egun e a Irmandade da Boa Morte. A performer mobiliza a corporeidade negra feminina estabelecida na dicotomia entre sujeito central na resistência e objeto dos mecanismos de manutenção sócios-culturais.

Odoyá_Bel Souza | Foto: Ruy Souza Filho

Bel Souza, no dia 2, domingo, às 19h, leva ao espaço do instituto solo concebido em espaço sagrado de recolhimento do candomblé, o roncó. Odoyá foi inspirado pelo movimento da maré, em uma sensação de flutuar sem fim, com o corpo envolvido pelas águas que vem e vão. A figura central é a de Iemanjá e seus aspectos simbólicos, arquetípicos e sensoriais, questionando as fronteiras entre contemporâneo e ancestral, espetáculo e ritual, palco e plateia.

Crédito da foto destaque: Rogerio Alves | Cena de Meia-Noite, com Orun Santana

Serviço/Programação

Local: Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô
Informações: (11) 2168-1776/1777
Acesso para pessoas com deficiência

Dia 28 de agosto (terça-feira)

Oficina com Orun Santana, Bel Souza e Ana Beatriz Almeida
Às 14h
Sala Multiuso
Duração: 180 minutos
20 vagas
Classificação indicativa: 16 anos
Interpretação em Libras
Entrada gratuita

Dia 29 de agosto (quarta-feira)

Balé de pé no chão: a dança afro de Mercedes Baptista
Direção: Lilian Solá Santiago e Marianna Monteiro
Exibição de filme seguida de bate-papo
Às 16h
Sala Vermelha
70 lugares
Duração: 120 minutos
Classificação indicativa: livre
Interpretação em Libras
Entrada Gratuita

Meia-Noite com Orun Santana
Com Orun Santana
Às 20h
Sala Itaú Cultural
224 lugares
Duração: 60 minutos
Classificação indicativa: livre
Interpretação em Libras
Entrada Gratuita

Dias 30 e 31 de agosto (quinta-feira e sexta-feira)

Looping: Bahia Overdub
Direção: Felipe de Assis, Leonardo França, Rita Aquino
Às 20h
Sala Multiúso
70 lugares
Duração: 90 minutos
Classificação indicativa: 18 anos
Interpretação em Libras
Entrada Gratuita

Dia 31 de agosto (sexta-feira)

Oficina Looping: Bahia Overdub
Com Felipe de Assis, Leonardo França, Rita Aquino
Das 14h às 17h
Sala Multiúso
20 lugares
Classificação indicativa: 16 anos
Entrada Gratuita

Dia 1 de setembro (sábado)

Sobre o Sacrifício Ritual
Com Ana Beatriz Almeida
Às 20h
Sala Multiúso
70 lugares
Duração: 60 minutos
Classificação indicativa: 18 anos
Interpretação em Libras
Entrada Gratuita

Dia 2 de setembro (domingo)

Odoyá
Com Bel Souza
Às 19h
Sala Multiúso
70 lugares
Duração: 32 minutos
Classificação indicativa: livre
Interpretação em Libras
Entrada Gratuita

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