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Cão sem Plumas, da Cia. de Dança Deborah Colker, é segunda atração da Temporada de Dança do Teatro Alfa

Com ingressos quase esgotados em todas as sessões, o Grupo Corpo deu a largada na Temporada de Dança do Teatro Alfa, que continua com as apresentações de Cão sem Plumas, da Cia de Dança Deborah Colker, espetáculo coreografado pela artista carioca que também já tem setores esgotados para a temporada paulista. Cão sem Plumas é baseado no poema homônimo de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e é seu primeiro espetáculo de temática explicitamente brasileira. As apresentações em São Paulo acontecem entre 25 de agosto a 2 de setembro. A Cia. Deborah Colker conta com o patrocínio da Petrobras desde 1995.

Publicado em 1950, o poema acompanha o percurso do rio Capibaribe, que corta boa parte do estado de Pernambuco. Mostra a pobreza da população ribeirinha, o descaso das elites, a vida no mangue, de “força invencível e anônima”. A imagem do “cão sem plumas” serve para o rio e para as pessoas que vivem no seu entorno. “O espetáculo é sobre coisas inconcebíveis, que não deveriam ser permitidas. É contra a ignorância humana. Destruir a natureza, as crianças, o que é cheio de vida”, diz Deborah.

A dança se mistura com o cinema. Cenas de um filme realizado por Deborah e pelo pernambucano Cláudio Assis – diretor de longas-metragens como Amarelo Manga, Febre do Rato e Big Jato – são projetadas no fundo do palco e dialogam com os corpos dos 13 bailarinos. As imagens foram registradas em novembro de 2016, quando coreógrafa, cineasta e toda a companhia viajaram durante 24 dias do limite entre sertão e agreste até Recife.

A jornada também foi documentada pelo fotógrafo Cafi, nascido em Pernambuco. Na trilha sonora original estão mais dois pernambucanos: Jorge Dü Peixe, da banda Nação Zumbi e um dos expoentes do movimento mangue beat, e Lirinha (ex-cantor do Cordel do Fogo Encantado, poeta e ator), além do carioca Berna Ceppas, que acompanha Deborah desde o trabalho de estreia, Vulcão (1994). Outros antigos parceiros estão em cenografia e direção de arte (Gringo Cardia) e na iluminação (Jorginho de Carvalho). Os figurinos são de Claudia Kopke. A direção executiva é de João Elias, fundador da companhia.

Os bailarinos se cobrem de lama, alusão às paisagens que o poema descreve, e seus passos evocam os caranguejos. O animal que vive no mangue está nas ideias do geógrafo Josué de Castro (1908-1973), autor de Geografia da fome e Homens e caranguejos, e do cantor e compositor Chico Science (1966-1997), principal nome do mangue beat. O movimento mesclava regional e universal, tradição e tecnologia. Como Deborah faz.

Para construir um bicho-homem, conceito que é base de toda a coreografia, a artista não se baseou apenas em manifestações que são fortes em Pernambuco, como maracatu e coco. Também se valeu de samba, jongo, kuduro e outras danças populares. “Minha história é uma história de misturas”, afirma ela. Tendo a Petrobras como mantenedora desde 1995, seu grupo se firmou como fenômeno pop em Velox (1995), Rota (1997) e Casa (1999). Os espetáculos Nó (2005), Cruel (2008), Tatyana (2011) e Belle (2014) trataram de temas existenciais, como os afetos. Em Cão sem plumas, Deborah reúne aspectos de toda a sua carreira.

“Cabem a elegância do clássico, a lama das raízes e o olhar contemporâneo. O nome disso é João Cabral”, diz ela. Reconhecida internacionalmente, Deborah recebeu em 2001 o Laurence Olivier Award na categoria Oustanding Achievement in Dance (realização mais notável em dança no mundo). Em 2009, criou um espetáculo para o Cirque de Soleil: Ovo. Em 2016, foi a diretora de movimento da cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro.

João Cabral vivia em Barcelona, como diplomata, quando leu numa revista que a expectativa de vida no Recife era menor do que na Índia. A notícia foi o impulso para fazer O cão sem plumas. Publicou em 1953 O rio ou Relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente à cidade do Recife e, três anos depois, sua obra mais conhecida, Morte e vida severina. Sua poesia, das mais importantes do Brasil, é marcada pelo rigor e pela rejeição a sentimentalismos.

A Temporada Alfa 2017 continua com o Cirque Éloize (de 22 a 24 de setembro), companhia canadense que está no topo da renovação da arte do circo, com o espetáculo Cirkopolis. Em seguida vem o Nederlands DansTheater 2 (29 de setembro e 1º de outubro), grupo holandês, referência há quase seis décadas na dança contemporânea, apresentando três obras selecionadas do repertório coreográfico. Finalmente, pela primeira vez no Brasil, chega a L. A. Dance Project (de 17 e 18 de outubro), companhia americana criada por Benjamin Millepied, bailarino e coreógrafo francês, que reúne artistas de diferentes disciplinas.

Ficha técnica

Criação, Coreografia e Direção – Deborah Colker.
Direção Executiva – João Elias.
Direção Cinematográfica e Dramaturgia – Cláudio Assis.
Direção de Arte e Cenografia – Gringo Cardia.
Direção Musical – Jorge Du Peixe e Berna Ceppas com participação especial do Lirinha.
Figurino – Cláudia Kopke.
Desenho de Luz – Jorginho de Carvalho.

O espetáculo Cão Sem Plumas é patrocinado pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro.

Crédito da foto: Cafi

Serviço

Cão sem Plumas
Cia. de Dança Deborah Colker
De 25 de agosto a 2 de setembro de 2017
Ter., qua. e qui., 21h. Sex., 21h30. Sáb., 15h (apenas no dia 2 de setembro) e 20h. Dom., 18h.
Local: Teatro Alfa
Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722 – Santo Amaro – São Paulo/SP
Ingressos: R$ 50,00 a R$ 160,00
Setor I: R$ 160,00
Setor II: R$ 160,00
Setor III: R$ 90,00
Setor IV: R$ 50,00
– Cartão Petrobras e Força de Trabalho: 50% na compra de até 2 ingressos por apresentação. Desconto não cumulativo.
Informações: (11) 5693-4000
Duração: 2 horas.
Classificação: 14 anos
Estacionamento: Vallet R$ 45,00

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